A Administração Federal de Aviação (FAA) emitiu um novo alerta de segurança para as companhias aéreas, destacando que as baterias de lítio transportadas por passageiros e tripulantes continuam a representar um risco crescente de incêndio a bordo de voos comerciais.
O Alerta de Segurança para Operadores (SAFO) pede que as companhias aéreas adotem medidas imediatas para reforçar os procedimentos, revisar o treinamento das tripulações e se comunicar de forma mais clara com os passageiros sobre como lidar com segurança os dispositivos eletrônicos. A FAA afirma que os eventos de fuga térmica — quando uma bateria superaquece incontrolavelmente e pode incendiar — continuam sendo um grande risco tanto nos compartimentos de passageiros quanto nos de carga.
“Os operadores devem considerar os riscos das baterias de lítio em seus processos de gerenciamento de segurança”, escreveu a FAA no SAFO 25002. A agência solicitou que as transportadoras aéreas norte-americanas atualizem os protocolos de combate a incêndio, reforcem o treinamento das tripulações e ampliem as campanhas de conscientização para que os passageiros saibam como agir caso um dispositivo apresente risco em voo.
O alerta ocorre em meio ao aumento de incidentes relacionados a incêndios em baterias de lítio. De acordo com dados da FAA citados pela Reuters, companhias aéreas e operadores de carga dos EUA registraram cerca de 50 casos de fumaça, incêndio ou superaquecimento envolvendo baterias de íon-lítio somente em 2025. Vários desses episódios resultaram em desvios de voo ou ferimentos em passageiros.
Um exemplo recente ocorreu em 5 de agosto, quando o celular de um passageiro superaqueceu durante um voo da American Airlines de Dallas para Madri. A fumaça tomou parte da cabine, informou a FAA, e o passageiro acabou ferido, enquanto os danos ao piso da aeronave atrasaram a decolagem. Menos de um mês antes, um laptop superaqueceu em um voo de Chicago para Portland, Oregon. A tripulação colocou o dispositivo em uma bolsa resistente no banheiro, mas a situação tornou-se grave a ponto de obrigar os pilotos a desviar para Casper, Wyoming.
As baterias de lítio estão tão presentes — alimentando desde smartphones até cigarros eletrônicos e dispositivos médicos — que as companhias aéreas enfrentam um desafio constante em mitigar seus riscos. A maioria dos incidentes envolve eletrônicos de passageiros levados na cabine, mas outros decorrem de cargas contendo baterias não declaradas ou mal embaladas. Em janeiro de 2024, funcionários da FedEx na Califórnia encontraram chamas em um pacote vindo de Seul. Posteriormente, os investigadores concluíram que ele continha cinco baterias de íon-lítio enviadas sem a devida declaração.
O mais recente SAFO descreve três áreas principais em que as companhias aéreas devem agir. Primeiro, atualizar as avaliações de risco para detalhar onde os passageiros armazenam dispositivos, sobretudo em compartimentos superiores, onde um incêndio pode não ser identificado de imediato. Segundo, reforçar o treinamento das tripulações sobre as particularidades dos incêndios em baterias de lítio, diferentes de outros tipos de fogo a bordo. Extintores de Halon, eficazes em vários tipos de chamas, não conseguem impedir que uma bateria em fuga térmica continue superaquecendo; por isso, a FAA enfatiza que o resfriamento com água é essencial para conter o risco. Por fim, aumentar a conscientização dos passageiros por meio de anúncios, cartões de segurança e websites, explicando por que as baterias devem permanecer acessíveis durante o voo e como agir caso apresentem superaquecimento.
Especialistas do setor alertam que, embora as tripulações treinem regularmente para cenários de incêndio em baterias, muitos passageiros ainda desconhecem os riscos. “Muitas pessoas ainda não percebem o quão grave pode ser o problema causado por um laptop ou telefone”, disse o consultor de segurança em aviação John Cox, citado em um relatório de 2023 do USA Today. “A chave está no reconhecimento rápido e na ação imediata.”
A FAA monitora incidentes com baterias de lítio desde 2006 e mantém um banco de dados público sobre esses eventos. Os números revelam uma escalada contínua, à medida que os dispositivos se tornaram mais potentes e numerosos. Reguladores de diversos países já proibiram o transporte de baterias de lítio sobressalentes na bagagem despachada, exigindo que sejam levadas na cabine, onde a tripulação pode intervir rapidamente.
Por ora, a FAA reforça que as companhias aéreas precisam manter a vigilância. “A fuga térmica pode ocorrer sem aviso prévio”, afirmou a agência em seu alerta. “A mitigação eficaz requer preparação, treinamento e comunicação clara com os passageiros.”
Embora não tenha proposto novos regulamentos, o tom do SAFO demonstra a crescente preocupação da FAA com os riscos associados às baterias de lítio. Com dezenas de incidentes graves apenas em 2025, os reguladores parecem determinados a manter a pressão sobre companhias aéreas, fabricantes e viajantes, de modo a evitar novos incêndios em voos comerciais.